Muitos produtores estavam se programando para a safrinha
2013 e para a safra 2013/14 quando as notícias sobre uma nova praga na
agricultura brasileira colocaram vários planos por terra. As reportagens de que
uma praga exótica no Brasil chegou às lavouras da Bahia e devastou cultivos de
algodão causaram ainda mais apreensão para os “trabalhadores do campo”, sejam
eles produtores, consultores ou pesquisadores.
Como pesquisador, logo iniciei pesquisas sobre qual era a
praga, de onde veio, como ela é, qual o seu potencial de dano e como podemos
manejá-la. Logicamente, perguntas difíceis de serem respondidas para qualquer
praga, ainda mais para uma praga recém-detectada no Brasil.
A primeira pergunta foi bem simples de ser respondida quando
li um trabalho escrito por Czepak e colaboradores (2013), relatando
cientificamente o primeiro registro de Helicoverpa armigera no Brasil. Para mim
ficou muito claro que se tratava da tão temida praga. A busca da segunda
resposta deixou evidente que a tarefa não seria fácil. Não se sabe como esta
praga chegou ao país. Existem diversas teorias, como bioterrorismo e alta
capacidade de migração, mas nenhuma confirmada oficialmente.
Por se tratar de uma praga nova no cenário agrícola
brasileiro, e claramente com enorme potencial de dano, é essencial saber
diferenciar esta de outras espécies, para realizar o controle mais eficiente.
Assim, recorri novamente à literatura, quando vi o primeiro problema: a distinção
entre Heliothis virescens (lagarta da maçã), Helicoverpa zea (a lagarta da
espiga do milho que estamos acostumados a ver) e a Helicoverpa armigera é
difícil. Mas podemos pelo menos definir qual o gênero se observarmos as
pontuações pretas ao longo do corpo das lagartas, a lagarta da maçã apresenta
microespinhos nas pintas, enquanto as lagartas do gênero Helicoverpa apresentam
as pontuações pretas ao longo do corpo das lagartas sem microespinhos.
Esta praga é polífaga, se alimentando de diversas culturas,
como algodão, soja e milho. Não há dúvidas de que Helicoverpa armigera é uma
praga de altíssimo potencial de dano, sendo considerada praga-chave de diversas
culturas em outros países. Na Austrália há um intenso programa de manejo de
pragas em função deste inseto e nos EUA, apesar de não terem esta praga
relatada oficialmente, já há uma série de estudos envolvendo as formas de
controle deste inseto.
Em condições brasileiras, é possível que essa praga tenha
até nove gerações por ano, evidenciando a capacidade reprodutiva e o potencial
de dano de H. armigera. Pelo menos 14 Estados do Brasil estão infestados pela
praga, dentre eles Mato Grosso do Sul, Bahia, Goiás, Mato Grosso, São Paulo,
Paraná, Maranhão, Piauí, entre outros (Degrande 2013, informação pessoal). Os
ataques desta praga já foram relatados principalmente na cultura do algodão. No
oeste da Bahia, foram observadas perdas de 15 @ ha-1 no algodão, em São Paulo 70% do feijão
foi atacado por Helicoverpa armigera e em Mato Grosso do Sul
foram registradas perdas de 10
a 15 @ ha-1 no algodão.
O controle desta praga passa por uma série de recomendações.
O calendário de plantio deve ser rigorosamente seguido, de acordo com as
recomendações para cada região. O vazio sanitário também deve ser seguido, de
modo que a destruição de soja seja realizada de forma adequada. A adoção do
refúgio é essencial para o controle desta praga. O uso adequado de inseticidas
é uma estratégia fundamental. O nível de controle para esta praga deve ser
seguido, bem como o momento de aplicar os inseticidas. Independente do produto
utilizado, sua eficiência é maior quando as lagartas são pequenas (até 7 mm ). Nesse aspecto, adota-se
o nível de controle para a soja na fase vegetativa quatro lagartas menores que 7 mm por metro de linha ou 30%
de desfolha; para a fase reprodutiva, uma lagarta menor que 7 mm por metro de linha ou 15%
de desfolha. É importante ressaltar que a amostragem deve considerar, além do
pano de batida, a avaliação visual das plantas em um metro de linha, pois a
técnica do pano de batida pode ser ineficiente para as lagartas pequenas de H.
armigera.
Quanto aos inseticidas para o controle químico de H.
armigera, o único inseticida registrado para seu controle pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o inseticida Belt®
(Flubendiamida) na dose de 50 a
70 ml ha-1 para a cultura da soja. Além deste inseticida, o ato nº 15, de 14 de
março de 2013 da Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins do MAPA, permitiu em
caráter emergencial os inseticidas à base de Clorantraniliprole na dose de 50
ml ha-1; Clorfenapyr nas doses de 1,0
a 1,2 L
ha-1; Indoxacarbe (dose para a soja não definida pela publicação oficial);
Bacillus thuringiensis na dose de 500
g ha-1; e vírus VPN-HzSNPV (Baculovírus) na dose de 200 a 375 ml ha-1. No
entanto, a Fundação MS recomenda que os produtores procurem o responsável
técnico de suas lavouras para o correto uso dos inseticidas, bem como o MAPA
para apoio legislativo quanto à utilização dessas substâncias.
Além das medidas de controle acima citadas, é essencial o
treinamento de técnicos de campo para realizarem a correta identificação das
pragas da lavoura e intensificar a amostragem nos talhões.
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